Antes de mais, deixem-me agradecer a onda de entusiasmo que esta iniciativa gerou entre os benfiquistas. A todos os blogues que nos adicionaram, a todas as pessoas que nos incentivaram, a todos aqueles a quem a ideia de apoiar o Benfica, tendo ou não dinheiro para isso, faz sentido. Nota-se que muita gente esperava por uma oportunidade destas para demonstrar o seu fervor clubístico e a sua indignação pela forma como os benfiquistas, por serem o clube mais popular e de maior grandeza, têm sido explorados nos últimos largos anos. Foi por sentirmos o mesmo que decidimos tentar fazer alguma coisa.
Digo "tentar" porque, apesar da irracionalidade que me assiste - especialmente em assuntos de bola -, tenho a noção clara de que esta é uma ideia com muitos obstáculos pelo caminho. Quem é que é maluco suficiente para ir de Lisboa (por exemplo) a Santa Maria da Feira para ficar fora do estádio a apoiar o Benfica? Bem, desta vez os Diabos e alguns de nós - a que se juntarão nortenhos sedentos de benfiquismo, mesmo que sem dinheiro para cheirar a relva. Mas que sucesso terá esta causa, amanhã e no futuro longínquo? É simples: aquela que todos vós quiserem. Passa pela capacidade de mobilização (e alguma esquizofrenia) dos benfiquistas a possibilidade de conseguirmos, até Maio, ir juntando gente pelas cidades deste país onde o Benfica for jogar. Amanhã estaremos muitos? Não creio. Estaremos alguns, os que quiserem, os que puderem, os que sentirem a necessidade de viver o Benfica por perto - ainda que não vendo Aimar tocar na bola.
Mas mais do que uns tontinhos que vão de Lisboa a Santa Maria da Feira, a Coimbra, a Guimarães, a Olhão ou à Patagónia, este movimento pretende ser a aglutinação dos benfiquistas de cada região que o Benfica visitará. É, para além da crítica veemente aos preços exorbitantes que os clubes decidem praticar, o que subjaz nos sentido do "Apoiemos (por) fora": oportunidade de quem não pode ir ao Estádio da Luz poder viver mini-Estádios da Luz pela cidade onde vive. Um encontro entre gentes do Sul e do Norte, partilha de experiências, queixas, alegrias, vivências. Nem todos têm dinheiro para pagar 30, 40, 60 (!) euros por um bilhete para ver um jogo em estádios que muitas vezes nem condições têm (não falo especificamente do de Santa Maria da Feira, porque não o conheço) e em que, pelas dimensões reduzidas do relvado, os espectáculos são quase sempre de menor qualidade. Claro que, no fundo, no fundo, o que interessa é que o Benfica ganhe, mas não é despiciendo o reflectir sobre questões que ultrapassam o mero resultadismo.
Os adeptos têm direito a questionar esta política de preços - seja nos jogos fora, seja nos jogos na Luz (em que também se continua a praticar uma demencial falta de noção da realidade e até de falta de respeito pelos sócios e adeptos, mas essa é uma questão que fica adiada por agora). E, à falta de meios para enfrentar estes valores pornográficos, os adeptos continuam a ter o direito de viver o seu clube da forma que possam e queiram. É, portanto, nessa ideologia que nos mantemos: vamos viver o jogo perto do estádio, mas do lado de fora. Quem quiser aparecer amanhã em Santa Maria da Feira, já sabe: lá estaremos. Para ouvir na rádio, para ver numa televisão que algum visionário se lembre de levar, para escutar os murmúrios que vêm das bancadas, para telefonar ao amigo que, lá dentro, vai dando as tácticas que, fora, não vemos. Para viver o Benfica. Amanhã e até ao final do campeonato. Apoiamos (por) fora.
Nota da gerência: alguma onda um pouco confundida com os nossos intentos tem-se levantado nos últimos dias. Parece-me que a ideia não foi bem entendida. Esclarecemos: ninguém está contra a ida de adeptos ao Estádio - pelo contrário, achamos que, quem pode pagar, deve ir e apoiar por dentro o clube. É até essencial que, numa altura em que o Benfica luta semanalmente por manter a liderança, tenhamos os estádios bem compostos ou mesmo cheios. No entanto, queremos deixar bem claro que não concordamos com os preços existentes e queremos pressionar os dirigentes dos próximos adversários a moderar as suas ideias. O Benfica é muito grande, dá para todos. Com a onda de entusiasmo, certamente terá estádios cheios até ao fim da corrida; será difícil que as coisas mudem radicalmente este ano. Mas a ideia só pode germinar se alguém fizer por isso. Não vejam nisto alguma afronta aos que pagam para ver os jogos (era só o que faltava!). Vejam nisto a forma de ligar os que podem com os que não podem - é essa a génese do Benfica. E encontrar-nos-emos antes e depois do jogo para uns copos.
VIVA o Benfica!